terça-feira, dezembro 08, 2009

“ÉSTE ÉS MI PAÍS”


foto: reprodução

Dirigindo seu velho carro, modelo antigo, um desses rabo-de-peixe da década de 50, ela seguia pelas ruas de Havana em Cuba, rumo a mais um dia de trabalho. Ocupava-se com o turismo local, oportunidade que conseguira por ser poliglota, falava perfeitamente o inglês e o francês. Durante seu trajeto, observava prédios seculares, carentes de reforma, muita sujeira, mofo e pobres animais abandonados, perambulando sem destino algum, naquele calor infernal. Toda essa ambientação aliada às privações, pobreza e sofrimento, só faziam culminar, mais e mais, seu intenso desejo de fugir dali numa daquelas barcas improvisadas rumo a Maimi beach. Mas essa idéia não era das melhores para deixar a ilha, seria mais fácil tentar pegar carona num daqueles furacões horrendos, que cismavam de aparecer por ali destruindo tudo, do que bancar a clandestina. Seu desejo começou a ganhar real proporção quando, num dia de trabalho, conheceu um americano. Foi o amor a primeira vista e o desejo intenso de deixar aquele lugar que mudou sua vida. Casou-se com ele e foi para os Estados Unidos. Lá teve tudo que não tinha antes: casa confortável, frutos do mar, uma boa garrafa de vinho e muitos dólares. Como em todo início de casamento ela adorava tudo, até o momento em que se sentiu oprimida novamente, dessa vez não pelo seu país, mas por um homem ditador. Aquele que realizara seu sonho, agora a impedia de trabalhar e não permitia que ela pusesse os pés fora de casa sem antes dizer onde estava indo. Quatro anos se passaram e ela divorciada, estava de volta a Cuba. Uma Cuba com novos ares, graças a saída do presidente Fidel Castro, agora sob o comando de Raúl Castro, seu irmão. A imagem que se tinha antes do país caribenho começa a mudar, algo percebido nos bares, restaurantes, e nas lojas. O que era proibido, agora se encontra para o consumo daquele povo, celulares, DVD´s e computadores. Timidamente, ela entra no bar, se senta, e com um olhar esperançoso, diz para si mesma em voz alta: “éste és mi país”, e numa golada mata sua sede com uma Coca-Cola, algo inimaginável antes.

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